- Alto lá - disse o guarda dos portões da cidade de Tartus - A cidade está interditada.
- Mas é o único caminho disponível, Guardião.
- Não posso permitir transeuntes.
- Por qual razão? Até parece que a cidade está sem rei.
- Temos um Rei, é claro, do contrário eu não estaria aqui.
- Perdão, eu vim de Solima e o Imperador está morto. Era uma piada.
- Não achei graça.
- Preciso passar pela cidade... Por quê você não fica com meu cavalo Britano?
- Não tente me enganar forasteiro, entendo de cavalos e esse é um cavalo de Corã. Posso ver pela coloração marrom.
- Que besteira minha tentar enganar um Guardião. Ainda assim, é um bom cavalo não?
- De fato. Bem, se deixa-lo comigo, você pode entrar na cidade.
- Era só o que eu precisava escutar.
O homem tirou seus pertences do cavalo, deixando apenas as rédeas e o entregou para o Guardião. Ele agradeceu e tentou subir no cavalo, mas a armadura limitava seus movimentos e parecia ser ligeiramente menor do que o tamanho de seu usuário, que acabou por permanecer aonde estava, segurando o cavalo, um pouco constrangido. Depois disso o homem seguiu para dentro do portal da cidade, feito de pedra e argamassa, como toda sua murada. Passeou pelas ruas arenosas, desviando de corpos que jaziam no chão das ruas, entrou em casas que haviam pegado fogo, sobrando apenas a vaga lembrança da estrutura de madeira escura e o cheiro de cinzas jogado pelo vento. Dentro delas não tinha muito, certamente foram saqueadas, provavelmente antes do fogo.
Juntou um punhado de cinzas e guardou em um pote de vidro pequeno e achatado que trouxera em sua sacola. Se sentia mal pela cidade, sentia o coração pesar em uma parcela de culpa. Adentrou mais na cidade até achar o que deveria ser o centro, viu um grupo de homens, enchendo um carro puxado por dois cavalos com pertences de casas que não foram consumidas pelo fogo. Se aproximou dos saqueadores e perguntou o que faziam, todos olharam da onde veio a voz, mas não esboçaram reação até que um deles puxou uma espada e disse:
- Isso aqui já é nosso, vá procurar o seu quinhão.
- A quanto tempo essa cidade foi destruída?
- Devem fazer uns 8 dias, mas as notícias correm depressa, pelo visto.
- O Rei de Tartus estava morto há mais tempo. O que você ouviu falar?
- Isso não lhe interessa.
O saqueador avançou para uma estocada com sua espada, mas o homem desviou e pegou-o pelo braço, fazendo-lhe uma torção e colocando-o de joelhos em uma fração de segundo. Ordenou para o saqueador largar a espada, mas ao invés disso ele procurou algo no cordão da calça. O homem viu algo prateado e largou o braço do saqueador, colocando rapidamente suas mãos ao redor de sua cabeça e à torcendo para trás com um barulho grotesco, vindo dos ossos e das cordas vocais do ladrão.
Os outros ficaram aterrorizados com a cena, colocaram os pertences que estavam em suas mãos no carro e partiram dali. O homem desconhecido retornou pelo mesmo caminho de onde viera. Cruzou o portal novamente e lá estava o Guardião, suando e com uma fúria evidente. Ele estava tentando tirar a armadura, sem sucesso.
- Qual o problema Guardião? Não consegue tirar a armadura?
- Por que você está de volta?
- Encontrei com seus amigos saqueadores. Acho que foi estupidez te deixar de guarda, logo que as pessoas entrassem na cidade, elas veriam que não restou nada e voltariam para reclamar seus pertences. Mas deve ter sido só para se livrar de você mesmo, já que eles foram embora.
- Mas o quê? Merda... Como sou idiota. Mas você caiu! Deixou seu cavalo aqui!
- Guardiões têm suas armaduras feitas especialmente para eles. Você está um pouco mais gordo do que o homem que roubou e sem ajuda, nunca conseguiria tirar isso, achei que era o poste perfeito para deixar meu cavalo enquanto reconhecia o terreno.
O falso Guardião não tinha mais palavras na boca, mas seus olhos se enchiam de fúria. Disparou sobre aquele homem, que chutou seu peito quando chegou perto o suficiente, caindo de costas. Se virou de lado para se levantar, mas o homem pisou em suas costas o impedindo de completar sua vontade.
- Você deve ter ouvido histórias do que aconteceu por aqui. Se me contar o que ouviu, pouparei sua vida.
- Vá à merda!
O homem tirou seu pé da armadura do salafrário e se dirigiu para seu cavalo, colocando suas coisas de volta e montando nele enquanto o outro se levantava e recuperava o fôlego do esforço. Se virando para o falso Guardião disse:
- Sabe, você não vai conseguir tirar essa armadura sozinho e sem um meio de transporte, morrerá de sede por aqui.
O falso Guardião avançou para o cavalo com os punhos cerrados, mas o homem montado deu algumas voltas nele, demonstrando grande controle do animal, ao mesmo tempo que desviava de suas investidas que não teriam agilidade sem armadura, muito menos com uma. Depois de praguejar e dançar tentando alcançar o cavalo e seu dono, caiu no chão pelo cansaço. O homem montado também desistiu da informação, mas disse uma última coisa para o homem de armadura: "Aliás, esse cavalo é Britano". Assim, começou a cavalgar de volta à cidade, indo em direção à Nicosa, aonde outro Imperador havia morrido, mas com menos esperanças de acha-la próspera.
1 deboches:
"Aliás, esse cavalo é Britano".
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